Trabalho e Educação sob o neoliberalismo: autonomia ou subordinação?


PREVITALI, Fabiane Santana; BILIO, Maria Geni Pereira; SILVA, Mara Rubia Aparecida da; MOREIRA, Rosana Mendes Maciel (org.). Trabalho e Educação sob o neoliberalismo: autonomia ou subordinação? Natal: Amplamente, 2024.

Apresentação:

A coletânea “Trabalho e Educação sob o Neoliberalismo: autonomia ou subordinação?” traz à luz um conjunto de discussões conduzidas por mim em duas situações que estão imbricadas, como professora e como coordenadora do Grupo de Pesquisa Trabalho Educação e Sociedade (GPTES). Como professora, no primeiro semestre de 2023, tive a oportunidade de ministrar a disciplina “Tópicos Especiais em Trabalho, Sociedade e Educação II: Reestruturação Produtiva e Educação”, ofertada pela Linha de Pesquisa “Trabalho, Sociedade e Educação” pertencente ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Como coordenadora do GPTES, oriento um conjunto de estudantes da graduação e da pós-graduação, alguns deles meus alunos/as na referida disciplina, e trabalho em colaboração com colegas pesquisadores/as que se debruçam sobre as temáticas do trabalho e da educação no contexto das transformações tecnológicas numa abordagem crítica. Foi ao longo do desenvolvimento da disciplina que foi tomando corpo a proposta de organização dessa obra, que reúne artigos resultantes dos trabalhos finais dos/as estudantes, muitos deles meus orientandos/as e de pesquisadores/as colaboradores/as do GPTES.
A disciplina teve como objetivo problematizar a relação trabalho e educação na dinâmica de reestruturação do capitalismo global, sob o avanço da tecnologia digital, do Neoliberalismo e da Nova Gestão Pública, detendo-se particularmente sobre o caso brasileiro, país subordinado, considerando-se a divisão internacional do trabalho e tendo como referência a tese marxiana da centralidade do trabalho na produção do ser social.
Buscamos analisar os mecanismos pelos quais o trabalho tornou-se mais fragmentado e precário, mesmo com maiores níveis de escolarização e qualificação profissional e como a educação formal foi chamada a responder às novas determinações do mundo do trabalho, sendo ela mesma reformulada e tendo seus pressupostos teóricos também questionados: Uma educação para o trabalho, pragmática e gerencialista ou uma educação humana, crítica e emancipatória?
O curso foi permeado por profícuos debates, resultantes das exposições e das leituras de cada um dos estudantes que, por sua vez, pertenciam à diferentes áreas de conhecimento e profissões: assistentes sociais, pedagogos, enfermeiros, sociólogos, historiadores, alguns sendo professores na Educação Básica pública e/ou privada, outros sendo servidores na gestão pública e/ou privada e outros ainda realizando trabalhos precários, intermitentes em função de sua situação vulnerável específica: estudantes de pós-graduação sem bolsa de estudos.
Muitos dos que exerciam em suas profissões não estavam em situações menos desconfortáveis: estudando sem licenças para capacitação, lecionando em mais de uma escola, com mais de um cargo, repondo horas de trabalho e cumprindo metas para resultados quantitativos tanto ao gosto dos gestores. Estavam se qualificando para exercer um serviço público melhor, para serem profissionais mais capacitados em seus locais de trabalho e funções, porém sob condições precárias.
A turma compreendeu homens e mulheres, brancos, negros, mais jovens e mais velhos, uns com mestrado, outros já no doutorado, particularidades essas que determinavam, em última instância, suas condições de trabalho e de vida. A classe trabalhadora traz em si a dimensão do gênero e da raça que funcionam como marcadores sociais na sua relação com o capital. O capital irá explorar cirurgicamente as diferenças a fim de enfraquecer laços de solidariedade e ampliar suas formas de controle para explorar mais e melhor.
A inserção particular no mundo e as visões de mundo de cada um e cada uma no curso se imiscuíram e deram vida às leituras, análises e interpretações realizadas ao longo de todo aquele semestre. Devo dizer que nessa interação e experiência de vida nos tornamos mais ricos, mais complexos em nossas análises, nos transformamos efetivamente e construímos um conhecimento novo. Nenhum de nós saiu do curso do mesmo modo que entrou nele. Houve um processo educativo eminentemente humano, algo que nenhuma tecnologia jamais irá realizar. Ideias brilhantes, frases espirituosas, coleguismo e solidariedade foram o espírito que moveu a turma e, devo dizer, que deve nos mover sempre, como forma de superar a estrutura social opressora em que vivemos.
Os trabalhos aqui reunidos expressam, em grande medida, o que une e o que diferencia os sujeitos sociais desse curso: homens e mulheres, com suas trajetórias de vida, suas histórias, todos e todas da classe-que-vive-do-trabalho. São ao todo onze capítulos que versam sobre os temas debatidos nas aulas.

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Sumário:

Apresentação | Fabiane Santana Previtali - p. 7

Capítulo I. Um estudo sobre o afastamento dos auxiliares e técnicos em enfermagem da Universidade Federal de Uberlândia | Elcione Aparecida Borges Morais e Mário Borges Netto - p. 15

Capítulo II. Trabalho e Educação: um estudo sobre as dicotomias no mundo do trabalho | Luciana Aparecida Santos Morais e Fabiane Santana Previtali - p. 29

Capítulo III. Precarização e feminização do trabalho docente na Educação Básica | Maria Geni Pereira Bilio, Nayara Guerra da Silva, Fabiane Santana Previtali e Adriana Cristina Omena dos Santos - p. 43

Capítulo IV. Políticas de Educação Especial na Educação Básica e Superior: investigando os desafios da inclusão de autistas | Maria José Ayres Camargo - p. 55

Capítulo V. Educação Escolar e precarização do trabalho: uma Educação do e para o mercado de trabalho | Matheus Bernardo Silva - p. 71

Capítulo VI. Perfil socioeconômico do estudante atendido pela assistência estudantil na Universidade Federal de Uberlândia | Merielle Martins Alves e Clara Rodrigues da Cunha Oliveira - p. 87

Capítulo VII. Tecnologias digitais e Educação: uma perspectiva marxista | Mara Rubia Aparecida da Silva e Fabiane Santana Previtali - p. 98

Capítulo VIII. Educação, para a vida ou para o trabalho? | Nicolli Moreira Soares e Fabiane Santana Previtali - p. 114

Capítulo IX. Trabalho e Educação: um estudo sobre a representatividade das mulheres nas atividades do campo | Rafaela Aparecida Silva Ferreira Diniz, Fabiane Santana Previtali e Sérgio Paulo Morais - p. 128

Capítulo X. Políticas públicas educacionais sob o neoliberalismo no Brasil: um novo trabalho docente para uma nova escola | Rosana Mendes Maciel Moreira, Adriana Duarte do Nascimento, Fabiane Santana Previtali, Lucia de Fátima Valente e Maria Simone Ferraz Pereira - p. 145

Capítulo XI. O conceito de qualificação para Braverman e sua relação com a Indústria 4.0 | Ana Paula de Castro Sousa e Fabiane Santana Previtali - p. 160

Informações sobre as organizadoras - p. 178

Informações sobre os autores - p. 180

Grupos de Pesquisas - p. 185

Índice remissivo - p. 187